Lobista da JBS ofereceu “aposentadoria” a Temer de até R$ 1 milhão por semana durante os próximos vinte e cinco anos

De Amoral Nato

Érika deu as primeiras pistas da ligação da Rodrimar com Temer, no porto de Santos, que a revista Veja expôs
Da Redação, com Garganta Profunda*
A mídia brasileira não é apenas ideologicamente contaminada. É, do ponto-de-vista de apuração, ruim.
Tudo o que ela faz, do ponto-de-vista “investigativo”, é republicar os documentos produzidos pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal. São os vazamentos.
Como diria Caco Barcellos, é o “jornalismo declaratório”, que não consegue ligar dois pontos.
Isso é tarefa para o Garganta Profunda, que não pode se identificar para não perder o emprego.
Depois de correr os olhos pela íntegra dos documentos da Operação Patmos, nosso veterano colega foi direto ao ponto central, ou seja, àquele que pode demolir a carreira de Michel Temer e colocá-lo na cadeia.
Está no documento Ac 4315, volume 2, que reproduzimos no pé do post.
Trata-se dos acertos entre o lobista Ricardo Saud, da JBS, e o deputado federal Rodrigo Santos da Rocha Loures (PMDB-PR), indicado por Michel Temer a Joesley Batista, da JBS, para representá-lo.
Com R$ 30 milhões, a JBS ajudou a financiar a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados — ou seja, abriu caminho para a derrubada de Dilma Rousseff.
Depois da conversa gravada entre Michel Temer e Joesley Batista, na calada da noite, no Palácio Jaburu, o lobista Saud passou a pressionar o deputado Loures a resolver pendencias financeiramente importantes que a JBS tinha junto ao governo federal.
    1. No CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o pleito da JBS para comprar gás diretamente da Bolívia, sem intermediação da Petrobras, o que segundo Joesley Batista custava a ele um prejuízo de U$ 1 milhão por dia.
    2. Um crédito de R$ 2 bilhões que a JBS teria sobre o PIS/Cofins de exportação na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.
O deputado Loures, intermediário de Temer, trabalhava informado de que o lobista da JBS fazia pagamentos para calar a boca de dois delatores em potencial que poderiam derrubar o governo Temer, o doleiro Dilson Funaro e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Loures trabalhava consciente de que ministros importantes do governo Temer poderiam ser afastados assim que se tornassem réus no Supremo Tribunal Federal — tudo isso aparece nos diálogos gravados.
O lobista Saud explorava essa instabilidade: prometia a Loures um negócio de longo prazo, que poderia render a Temer uma “aposentadoria” de até R$ 1 milhão por semana durante 25 anos.
Ricardo Saud, provavelmente estimulado pelo fato de que já “trabalhava” como delator da Procuradoria Geral da República, tentava o deputado Rodrigo Loures a receber dinheiro vivo o mais rapidamente possivel.
Era uma forma de permitir à Polícia Federal que “produzisse” provas.
Por isso, é preciso ter cuidado: o lobista pode ter feito promessas absurdas justamente por saber que as provas produzidas por ele mais tarde incriminariam Temer e sua turma.
É preciso debater, inclusive, se esse tipo de “pegadinha” é juridicamente aceitável.
Saud, agora livre, leve e solto nos Estados Unidos, comparecia aos encontros com sua Maserati. Um automóvel que, novo, sai por cerca de R$ 700 mil.
Como se vê no diálogo acima, o lobista Saud tenta fazer com que o deputado Loures, o representante de Temer, receba a propina em dinheiro vivo, não através de notas fiscais frias, que acarretariam o pagamento de impostos.
O tal Edgar, mencionado no diálogo e ainda não identificado, é mencionado como alternativa para receber os pagamentos semanais.
Entregas já haviam sido feitas, anteriormente, ao coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo do peito e suspeito de ser laranja de Temer.
Porém, o coronel já estava “queimado”. Tinha aparecido na imprensa por conta da estranha participação da empresa dele, a Argeplan — que não tinha nenhum conhecimento no ramo — numa concorrência vitoriosa em projeto da Eletronuclear, em parceria com uma empresa holandesa.
No diálogo acima, o deputado Loures comunica ao lobista da JBS que o coronel Lima não pode mais receber dinheiro vivo.
Sugere como alternativa um xará de Ricardo Saud, que ambos haviam encontrado durante uma entrega anterior.
O lobista da JBS diz que não gosta do tal Ricardo, mas que não se importa com quem for buscar a semanada desde que as entregas aconteçam no estacionamento do Instituto Germinare, uma escola bancada pela JBS nas proximidades da marginal do Tietê, em São Paulo.
Ricardo Saud é professor lá. Diz que o dinheiro vivo poderá inclusive ser entregue sob peças de carne, como se alguém fosse apanhar uma encomenda.
O deputado diz que vai conversar com o tal Edgar e oferece duas opções ao lobista para a entrega do dinheiro: Edgar ou Ricardo.
Eles também mencionam um certo Celso, que seria de integral confiança de Michel Temer.
A notícia do Valor Econômico mencionada no diálogo diz respeito a uma possível delação premiada de Eduardo Cunha.
Quanto ao valor da propina, ele depende do PLD, o Preço de Liquidação das Diferenças, uma medida do mercado de energia.
Se o PLD estiver entre 300 e 400 por semana, a propina paga será de 500 mil reais por semana.
Se o PLD estiver acima dos 400, Temer receberá R$ 1 milhão semanais.
É uma forma de incentivar Temer a atender o pleito da JBS, que produz energia em sua termelétrica de Cuiabá.
Quanto mais Joesley lucrar vendendo a energia da termelétrica, mais Temer e sua patota receberão.
Para Joesley lucrar, é preciso que ele compre gás diretamente dos bolivianos ou que feche um contrato de 25 anos com a Petrobras a preço de gás “camarada” para tocar a termelétrica.
No diálogo acima, o lobista da JBS revela que prefere entregar o dinheiro ao tal de Edgar.
“O problema é o seguinte, a gente já fez muito negócio lá com o Ricardo e com o Celso… bom se é da confiança do chefe, não tem problema nenhum…”, diz o homem da mala da JBS.
Fica definido que, se a entrega for na escola — e não na sede da JBS, que também fica na marginal — qualquer um indicado pelo deputado pode pegar o dinheiro.
Mas, quem é o tal Ricardo?
Trata-se, segundo a Polícia Federal, de Ricardo Mesquita, da empresa Rodrimar, baseada em Santos.
Mas, o que exatamente isso tem a ver com Michel Temer?
No final do ano 2000, um processo de separação tumultuou a vida do então deputado federal Michel Temer.
Érika Santos, em união estável com Marcelo de Azeredo, dirigente da Codesp, a Companhia Docas de Santos, pleiteou uma pensão de R$ 10 mil mensais depois da separação. Foi um divórcio litigioso.
Marcelo havia sido indicado para o cargo por Michel Temer.
Para garantir seu pleito, Érika retirou do computador do ex-marido informações sigilosas. Numa planilha, descobriu que as propinas obtidas em negócios do porto eram assim divididas: 50% para Michel Temer, 25% para o coronel Lima e 25% para Marcelo de Azeredo.
Pelos cálculos feitos a partir dos dados registrados no computador, Temer teria recebido ao menos R$ 2,7 milhões em propinas nos negócios do porto.
Deste total, R$ 500 mil teriam sido pagos pela Rodrimar, a mesma empresa agora indicada pelo deputado Rodrigo Loures para receber as semanadas de Temer.
É justamente por isso que a Polícia Federal fez buscas tanto na Argeplan, em São Paulo, quanto na Rodrimar, em Santos.
É o caminho para revelar o propinoduto que abasteceu a ascensão do político medíocre que é Temer, desde quando passou a mandar no maior porto do Brasil, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Ruim de voto, mas bom de acertos obscuros nos bastidores, por perto da meia noite, como ficou demonstrado no encontro com Joesley Batista no porão do Palácio Jaburu